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As Doutrinas da Reforma

Reverendo João Alves dos Santos

            No dia 31 de Outubro de 1517, na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, Lutero afixou as suas 95 teses que acabaram provocando o grande movimento religioso, conhecido como a Reforma do Século XVI. Nelas Lutero convidava os interessados a debater a questão das indulgências (que eram vendidas para a construção da Basílica de S. Pedro, em troca de perdão de pecados) e os males que esse tráfico religioso podia acarretar. Era costume na época afixar em lugares públicos temas ou teses para debate e convidar os interessados para discuti-los. Embora ninguém tivesse comparecido para o debate, em pouco tempo toda a Alemanha conhecia as teses de Lutero, que lhe custaram a bula de excomunhão, mas que representaram também o começo da obra de purificação da Igreja e seu retorno à verdade.

            Em suas teses, Lutero questionava o poder (ou mesmo a intenção) do Papa de perdoar pecados ou de isentar alguém de penas, a não ser aquelas por ele mesmo impostas. Negava que esse perdão (de penas ou penitências) pudesse se estender aos que já haviam morrido e que, porventura, estivessem no purgatório. Para ele, só o arrependimento, seguido de atos de amor e penitência, com ou sem carta de perdão (indulgência) podia realmente perdoar pecados. Destacava o valor da Palavra de Deus, a qual não deveria ser silenciada em benefício da pregação das indulgências. A intenção do Papa, dizia, deve ser esta: se a concessão dos perdões – que é matéria de pouca importância – é celebrada pelo toque de um sino, com uma procissão e com uma cerimônia, então o Evangelho – que é a coisa mais importante – deve ser pregado com o acompanhamento de cem sinos, de cem procissões e de cem cerimônias (tese 55) e, ainda, o verdadeiro tesouro da Igreja é o sacrossanto Evangelho da glória e da graça de Deus (tese 62). Negava que a cruz adornada com as armas papais (que era carregada pelos vendedores de indulgências) tivesse o mesmo efeito que a cruz de Cristo (tese 79). Muitas outras questões foram levantadas nas teses, as quais acabavam batendo na própria autoridade do Papa e na lisura de suas intenções. Lutero afirmava: Essa licenciosa pregação dos perdões torna difícil, mesmo a pessoas estudadas, defender a honra do Papa contra calúnia, ou pelo menos contra as perguntas capciosas dos leigos. Esses perguntam: Por que o Papa não esvazia o purgatório por um santíssimo ato de amor e das grandes necessidades das almas; isto não seria a mais justa das causas, visto que ele resgata um número infinito de almas por causa do sórdido dinheiro dado para a edificação de uma basílica que é uma causa bem trivial? … Que misericórdia de Deus e do Papa é essa de conceder a uma pessoa ímpia e hostil a certeza, por pagamento de dinheiro, de uma alma pia em amizade com Deus, enquanto não resgata por amor espontâneo uma alma que é pia e amada, estando ela em necessidade?… As riquezas do Papa hoje em dia excedem muito à dos mais ricos Crassos; não pode ele então construir uma basílica de S. Pedro com seu próprio dinheiro, em vez de fazê-lo com o dinheiro dos fiéis? … Abafar esses estudados argumentos dos fiéis apelando simplesmente para a autoridade papal em vez de esclarecê-los mediante uma resposta racional, é expor a Igreja e o Papa ao ridículo dos inimigos e tornar os cristãos infelizes (teses 81, 82, 84, 86 e 90).

 Com essas e outras proposições Lutero alcançou mais do que podia imaginar. Atingiu o ponto crucial do problema: a situação de distanciamento do Evangelho em que se encontrava a Igreja. Os males da Igreja não eram apenas os seus desvios morais, econômicos e políticos, que a colocavam em descrédito perante o povo. Seu problema principal, responsável também por estes, era o afastamento das doutrinas fundamentais da Palavra de Deus. A Reforma trouxe a Igreja de volta às Escrituras e ao Evangelho pregado pelos apóstolos. O próprio Lutero, de início, não estava totalmente livre dos erros pregados por sua Igreja, como muito bem atesta sua crença no purgatório (teses 10, 11, 15, 16, 17, 22, etc), e no valor da penitência (sofrimento) e do perdão do Papa para certos pecados (teses 6, 7, 8,12, 34, 38, 40, etc.). Foi o estudo da Bíblia que revelou quão longe a Igreja estava afastada da verdade e a trouxe de volta à pureza de sua crença primitiva. A Reforma restituiu à Igreja a crença em doutrinas chaves, que se tornaram essenciais para a sua pregação e para distingui-la dos erros que continuaram e ainda são mantidos pela Igreja Romana até os nossos dias. É a importância dessas doutrinas, conhecidas por sua designação latina Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo Gloria.

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